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Dia 30/08/2021 12:41

QUAL A IMPORTÂNCIA DA PSICOFARMACOLOGIA NA PRÁTICA CLÍNICA DO PSICÓLOGO?

QUAL A IMPORTÂNCIA DA                PSICOFARMACOLOGIA NA PRÁTICA CLÍNICA DO PSICÓLOGO?
                    

Não sei como é sua prática clínica como psicólogo, nem o quanto seus clientes fazem uso de medicações, mas sei que, em algum momento, certamente, você irá se deparar com alguma situação em que será importante ter conhecimento da área farmacológica.

Porque é fato, concordemos ou não, existe um caminho para tratar nossas “dores”, que passa pelo uso de medicações.

Por que estou trazendo esse assunto?

Porque é importante compreender que o processo da medicalização já faz parte da nossa realidade.

Porque muitas questões emocionais são tratadas como sintomas e portanto medicáveis. 

Porque refletir sobre o uso de psicotrópicos e sua relação com a saúde mental é de suma importância no nosso trabalho  como psicólogos. 

A medicalização surgiu na segunda metade do século XX e foi impulsionada pelos avanços no diagnóstico clínico, aliado à tecnologia, aos exames de imagem, exames bioquímicos, à descoberta de novos medicamentos, ao desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas, entre outros (TESSER; POLI NETO; CAMPOS, 2010), influenciada pelo contexto social, político, cultural e econômico da época. 

Hoje, os avanços nessa área são inúmeros e, talvez, nem possamos dimensionar a evolução que teremos nas próximas décadas, mas com certeza, isto terá um forte impacto na nossa atuação como psicólogos. 

O desenvolvimento da psicofarmacologia teve início na década de 1940.

Veja que não faz tanto tempo assim! 

A primeira droga utilizada para esse fim foi o lítio, para tratar a mania. Depois veio a descoberta dos efeitos antipsicóticos da clorpromazina (1954) e o clordiazepóxido (1957). Logo em seguida, surgiu uma extensa gama de benzodiazepínicos. Desde então, a indústria farmacêutica vem investindo e desenvolvendo novos medicamentos para a área da saúde mental, que levou a esta enorme gama de psicotrópicos, com os quais nos deparamos atualmente.

A escolha de iniciar uma medicação psiquiátrica é complexa.

Deve haver uma avaliação criteriosa, bem fundamentada cientificamente, devendo passar por:

  • uma identificação de sintomas
  • critérios diagnósticos
  • análise da história do paciente
  • aspectos da herança hereditária 
  • e mais toda uma conceitualização de caso, que conduza a uma opção assertiva da medicação

Meu objetivo aqui é provocar uma reflexão:

O quanto você considera importante na sua prática clínica ter conhecimento sobre psicofarmacologia?

Pense que, ao falarmos de psicofármacos e seus mecanismos de ação, estamos também nos referindo a reações químicas que desencadeiam uma rede de interligações complexas, cujo efeito está relacionado não apenas com a eficácia do medicamento, mas também a uma série de consequências e alterações que serão desencadeadas a partir deste contexto.

É claro que, a escolha de qual medicamento deve ser prescrito não compete a nós psicólogos, porém, é:

  • no seu consultório que este paciente estará uma vez por semana.
  • é você quem fará o acompanhamento mais próximo e contínuo desta pessoa.
  • as alterações que o uso da medicação irá desencadear no seu paciente, de alguma forma,  influenciará o seu trabalho. 

Algumas vezes partirá de você a indicação para a procura de um psiquiatra, portanto é fundamental que você tenha uma base sólida para poder dialogar com o psiquiatra, com fundamentação e conhecimento.

Desta forma construímos não apenas autoridade profissional, mas também nosso cliente sentir-se-á muito mais seguro e confiante ao perceber que seu psicólogo tem propriedade para relacionar-se com a psiquiatria.

Outras vezes seu cliente chegará até você usando uma determinada medicação ou, até mesmo, uma associação medicamentosa.

Saber como proceder nesses casos é um diferencial.

Também é importante que seu conhecimento possa transmitir segurança no momento que você conversar com seu cliente e que também possa ajudar você a fazer uma análise das medicações e do contexto que envolve seu uso, suas causas e consequências.

Eu teria vários exemplos para compartilhar, mas irei deixar para um próximo momento.

Agora considero fundamental perceber a importância da interface entre psicoterapia e psicofarmacologia.

Avalie comigo: 

Um medicamento ao ser prescrito tem:

Características farmacocinéticas, vias de administração, tempo para o início da ação, mecanismos de ação,  biotransformação,  produção de metabólitos ativos,  tempo de meia vida,  frequência das doses, posologia indicada, etc.  Além das características associadas à terapêutica medicamentosa, temos também os efeitos adversos, os efeitos colaterais, entre tantas outras coisas.

Veja bem, trazendo essas questões para o universo da psicofarmacologia, temos um conteúdo de relevância maior ainda, porque nesses casos, estamos nos referindo a medicamentos que agem diretamente no sistema nervoso central, podendo, por exemplo:  desencadear, dependência, tolerância, uso abusivo, alterações comportamentais e  outras possibilidades.

Deixo aqui uma pergunta:

- Qual o seu posicionamento frente ao uso de psicotrópicos?  

O avanço da medicina e das descobertas de novos medicamentos têm trazido muitos benefícios para a humanidade, é possível diagnosticar doenças com precisão e rapidez, os meios de intervenções médicas têm salvado e prolongado vidas, os medicamentos aliviam dores, curam doenças e promovem uma melhor qualidade de vida. Considera-se que todos os medicamentos devam ser utilizados para o fim a que se destinam, de forma segura e eficaz, com supervisão de profissionais capacitados e para tratar casos em que realmente a medicação seja indicada (CORDIOLI, 2005).

Agora, não podemos ignorar o lado negro da psicofarmacologia, o qual aparece quando os medicamentos são utilizados de forma indiscriminada e inadequada, quando usados como instrumento para ocultar o sofrimento, combater as dores emocionais e, até mesmo, quando seu uso tem a função de interromper a vida.

Quem já não se deparou com um paciente, ou mesmo um amigo, que queria tomar um antidepressivo para se sentir melhor e ficar “feliz”, ou uma medicação para conseguir dormir, ou ainda, um psicotrópico para ficar acordado e ter foco para estudar?

São situações que invadem não apenas nosso consultório, mas também nossa vida.

Portanto, no meu entendimento como uma profissional que circula por essas duas áreas, pois também sou farmacêutica, considero de fundamental importância desenvolver, não apenas conhecimento na área, mas também obtermos um posicionamento perante este contexto, que seja fundamentado em nossos valores como profissional.

Reflito muito sobre isto, porque realmente acredito que quanto mais ampliarmos nosso conhecimento nesta área, mais poderemos fornecer um suporte eficaz para nossos pacientes e  nos beneficiarmos da psicofarmacologia quando ela de fato for necessária.

Nós como psicólogos temos a oportunidade de atuar como uma ponte para o desenvolvimento do uso correto das medicações, de forma que possamos intervir no uso indiscriminado, na automedicação e, principalmente, no consumo abusivo, que conduz muitas pessoas ao prejuízo de suas próprias vidas. 

Ter conhecimento em psicofarmacologia não é apenas oportuno, mas de fundamental importância, pois além de ser um complemento no processo psicoterápico também poderá potencializar nossa atuação como psicólogos clínicos.

REFÊRENCIAS

CORDIOLI, Aristides Volpato. Psicofármacos nos Transtornos Mentais. [2005]. 

TESSER, Charles Dalcanale; POLI NETO, Paulo; CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa. Acolhimento e (des) medicalização social: um desafio para as equipes de saúde da família. Ciênc. Saúde Coletiva, Botucactu, v. 15, s. 3, p. 3615-3624, 2010. 

RITA TOLOTTI