Quando ouvi a primeira vez Terapia de Aceitação e Compromisso, achei o nome interessante e fiquei muito curiosa para entender do que se tratava esta tal de “ACT”.
Movida pela curiosidade passei a mergulhar neste universo e quanto mais eu conhecia sobre seus fundamentos mais via sentido em utilizar esta abordagem, não apenas no meu trabalho como psicóloga como também na minha vida. Assim, escolhi fazer a especialização nesta área e hoje trabalho com as Terapias Comportamentais Contextuais, grupo do qual a ACT faz parte.
Usei o termo mergulhar para descrever meu processo de aprendizado, porque ACT é exatamente isto, é mergulhar em ser quem somos, perceber nossos processos mentais, nossos sentimentos e estar atento ao momento exatamente com tudo que ele nos oferece.
Longe de ser uma abordagem passivam, ela nos conduz a desenvolver ações que nos direcionem para o que desejamos para nossa vida.
A ACT propõe uma forma diferente para lidar com nossas experiências pessoais, nos convidando a perceber e vivenciar nossas “dores” como um momento da vida, traz consigo o conceito de que não é possível erradicar o sofrimento, mas sim desenvolver formas ou habilidades para lidar com os mesmos.
Segundo ela, as dificuldades de lidarmos com o sofrimento estão associadas com o modo como percebemos nossos problemas e não com os problemas em si (HAYES, 2005).
O foco de todo o processo não está em tentar modificar pensamentos, emoções ou sentimentos, mas sim em alterar a forma de lidar com eles.
Preconiza que sejamos capaz de viver em contato com o momento presente como um ser humano consciente, que possamos abrir espaço para as experiências internas desagradáveis, vivendo com base no que a situação exige, mudando e persistindo no comportamento a serviço do que é importante e significativo para cada um de nós (HAYES, STROSAHL e WILSON, 2011).
A partir destes pressupostos, o trabalho com ACT - Terapia de Aceitação e Compromisso, visa avaliar comportamentos não como um evento isolado, mas sempre buscando compreender o contexto no qual ele está inserido. Ampliamos o olhar, observando tudo que está associado ao modo como nos comportamos, buscando entender não apenas como agimos, mas também a função que está associada ao modo como agimos. (HAYES, 2004).
A partir deste enfoque desenvolvemos o que chamamos de flexibilidade psicológica, para você entender:
Pense em um corpo flexível, que consegue ser ágil, consegue cair e se machucar o menos possível, consegue ter alongamento e se mover com fluidez.
De um modo figurativo, flexibilidade psicológica consiste em fazer isto com nossos processos mentais.
Perceba, por exemplo, sua mente. É provável que inúmeras vezes ela fique viajando entre passado, presente e futuro e em frações de segundo você é capturado por lembranças, desejos, ruminações, fantasias, desencadeando pensamentos, emoções e sentimentos, afinal somos seres pensantes e nossa mente está em contínua atividade.
A partir desta perspectiva a ACT entende que alguns problemas podem ocorrer quando conferimos um valor excessivo ao que pensamos, quando os assumimos como verdades inquestionáveis, o que pode, muitas vezes não ser compatível com a realidade.
Permitimos que a mente assuma o comando e influencie nossas ações ou mesmo nos imobilize perante situações, ficamos presos aos nossos conteúdos mentais, muitas vezes distorcidos, o que pode nos levar a agir de forma disfuncional ou nos distanciar do que queremos para nossa vida.
Nestes casos a ACT preconiza uma postura consciente com o ato de pensar, onde pensamentos são percebidos como pensamentos. Propõe um distanciamento das produções mentais, onde os mesmos são notados a partir da perspectiva de um observador, transformando a função do pensar e não a sua forma, visando reduzir o efeito da mente sobre os comportamentos. (HAYES, STROSAHL e WILSON, 2011).
O trabalho com ACT é dinâmico, interativo e vivencial, o psicoterapeuta dispõe de uma série de ferramentas para que seja possível que o cliente possa se conectar consigo em todas as dimensões de sua vida, aprenda a compreender seus obstáculos e desenvolver ações de compromisso que o direcionem para construir o que deseja para si.
Um psicólogo ACT, tem que vivenciar ACT, ela é muito mais que um processo psicoterápico, é uma forma de escolher como queremos viver neste mundo.
HAYES, S. C.; FOLLETTE, V. M.; LINEHAM, M. M. Mindfulness and Acceptance: Expanding the Cognitive-Behavioral Tradition. New York: Guilford Press, 2004
HAYES, S. C. Get Out of Your Mind & Into Your Life: The New Acceptance & Commitment Therapy. Oakland, CA: New Harbinger Publications, 2005.
HAYES, S. C., STROSAHL, K.; WILSON, K. Acceptance and Commitment Therapy: The process and practice of mindful change (2ª ed.). New York: Guilford Press, 2011.
RITA TOLOTTI
